Não, uma alimentação saudável deve ser uma alimentação sustentável.
Muitas das alterações ambientais estão relacionadas com a forma como nos alimentamos. Ingerimos “tudo e mais alguma coisa” sem pensar nas quantidades, origem, como foi produzido, como uns autênticos “egoístas”, não ponderando o impacto que isso tem nesta nossa enorme “Casa”, o nosso planeta. Se é comprovado que um determinado alimento tem propriedades fantásticas como “superalimento” a tendência é aumentar (e muito) a procura desse alimentos, tonando-o “alimento da moda”, consumindo em quantidades como se “não houvesse amanhã” onde muitos desses alimentos não são nacionais, são importados de outros países, de outros continentes, são a base da alimentação de outros povos e nós, com o nosso “egoísmo” acabamos por prejudicar essa população (contribuindo para o risco a sua segurança alimentar devido aos preços elevados que acabam por ser praticados limitando o acesso dessa população), além do impacto ambiental que isso acarreta.
Mas o que é uma alimentação sustentável?
Segundo a FAO (2015), uma alimentação sustentável tem um baixo impacto ambiental, contribui para a segurança alimentar e nutricional da população bem como para o seu estado de saúde. A alimentação sustentável respeita e protege a biodiversidade e ecossistema, permite otimizar os recursos naturais e humanos. Trata-se também de uma alimentação aceite culturalmente, nutricionalmente adequada, acessível à população, segura e justa a nível económico.
Então, mas quando nos aconselham a optar por alimentos sustentáveis de que estamos a falar?
Estamos a falar de um alimento que foi produzido com métodos de produção que respeitam o ambiente e os animais; um alimento local e sazonal (da época) adquirido diretamente do produtor; um alimento não processado de forma a minimizar a quantidade de recursos utilizados (por exemplo combustível, água); um alimento que respeita o bem-estar do ambiente, dos animais, dos produtos e dos consumidores.
Uma alimentação que inclua mais produtos de origem vegetal (de preferência locais e sazonais) leva a uma redução da pegada de carbono, hídrica e ecológica. Contrariamente, uma alimentação onde abundam grandes quantidades de alimentos de origem animal tem um grande impacto nos indicadores ambientais referidos. A pecuária é uma das principais causas para a produção e emissão de gases metano e óxido nitroso.
Cerca de 1/3 dos alimentos produzidos não é consumido. As perdas alimentares e o desperdício alimentar são responsáveis pela emissão de 8% dos gases efeito de estufa.
Como podes dar um grande passo para uma alimentação mais saudável, mais sustentável?
É muito simples! A Dieta Mediterrânica (a nossa dieta de base e que temos vindo a esquecer) pode ser uma das alternativas adequadas.
Podes também ter em atenção algumas dicas:
- Planeia antecipadamente as tuas refeições;
- Faz sempre uma lista de compras e compra apenas os alimentos que vão ser consumidos;
- Dá preferência a alimentos frescos, locais e da época;
- Consome pescado nacional, conforme a época e com o tamanho mínimo exigido;
- Opta por alimentos oriundos do comercio justo;
- Reduz o desperdício na preparação e confeção dos alimentos;
- Ocupa ¾ do prato com alimentos de origem vegetal;
- Limita os alimentos de origem animal a ¼ do prato;
- Limita o consumo de carne vermelha e carne processada;
- Aumenta o consumo diário de leguminosas;
- Evita os alimentos embalados;
- “Não tenhas mais olhos que barriga”, ingerido apenas a quantidade necessária para as tuas necessidades energéticas, tendo em atenção as porções recomendadas pela roda da alimentação mediterrânica;
- Reaproveita as sobras de outras refeições;
- Opta por cozinhar com a panela de pressão pois permite cozinhar mais rapidamente economizando assim energia;
- Prefere embalagens familiares em vez de embalagens individuais;
- Opta por adquirir produtos avulso (já são vários os estabelecimentos comerciais com esta opção);
- Opta por comprar alimentos no mercado municipal da tua região, pois assim consegues encontrar produtos locais e estás a ajudar os produtores da tua terra (quem sabe os familiares de um amigo ou mesmo os teus familiares);
- Acondiciona de forma conveniente os produtos, tendo sempre em atenção a sua data de validade;
- Consome em primeiro lugar os alimentos mais perecíveis (que se “estragam” com mais facilidade);
- Recicla embalagens usadas;
- Evita a utilização de sacos de plástico de utilização única (felizmente hoje temos uma grande panóplia de sacos preparados para várias utilizações, e alguns bem bonitos);
- Se tiveres um “cantinho” faz compostagem dos resíduos orgânicos e utiliza como fertilizante na horta familiar;
- E, que tal uma horta para toda a família? Em caso de falta de espaço podes optar por um canteiro de ervas aromáticas, por exemplo.
O Planeta terra é apenas 1 e os recursos não são inesgotáveis. Neste momento a população mundial gasta o equivalente a 1,6 planetas. Se continuamos a agir como temos agido e a registar este ritmo de consumo até 2030 terá sido gasto o equivalente a 2 planetas Terra.
Vamos refletir mais sobre as nossas ações. Vamos fazer com que esta “casa” continue linda e saudável para as gerações futuras.
Joana Valentim Marques (Técnica Superior – Nutricionista - Município de Alcobaça – UVSP)
(Bibliografia: Associação Portuguesa de Nutrição. Alimentar o futuro: uma reflexão sobre sustentabilidade alimentar. E-book n.° 43. Porto: Associação Portuguesa de Nutrição; 2017; FAO. Global food loss and waste. Food wastage footprint & climate change. Food and Agriculture Organization of United Nations . Disponível em: http://www.fao.org/3/a-bb144e.pdf.; FAO. Key facts on food loss and waste you should know [Internet]! Food and Agriculture Organization of the United Nations; 2017 . Disponível em: http://www.fao.org/save-food/resources/keyfindings/en.; Global Footprint Network. Ecological Footprint. Global Footprint Network [Internet]; Disponível em: http://www.footprintnetwork.org/our-work/ecological-footprint/.; FAO. Building a common vision for sustainable food and agriculture. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations; 2014. Disponível em: http://www.fao.org/3/a-i3940e.pdf. ; FAO. The future of food and agriculture - trends and challenges. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations; 2017. ; FAO. The state of food and agriculture – climate change, agriculture and food security. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations; 2016. ; FAO. The state of food and agriculture ; FAO. FAO and the 17 sustainable development goals. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations; 2015. Disponível em: http://www.fao.org/3/a-i4997e.pdf. )