Conectarmo-nos com outras pessoas através das relações sociais é um dos aspetos fundamentais da vida humana. Evolucionariamente a seleção natural favorece aqueles que apresentam maior propensão para cuidar dos seus descendentes e para se organizarem em grupos sociais. Biologicamente o nosso cérebro está determinado para estabelecer conexão social. Mais do que uma característica, a ligação com os outros é uma necessidade. Décadas de pesquisa sugerem que a qualidade dos nossos laços sociais pode ser o maior preditor do nosso bem-estar geral.
No entanto, esta ligação com os outros implica a coragem de nos colocarmos sem máscaras junto de quem é importante para nós e daqueles que cruzam o nosso caminho diariamente. A questão que se coloca é: quantas vezes nos sentimos seguros e disponíveis para nos darmos assim, sem reservas? Esta dose de vulnerabilidade a que somos chamados, ao serviço de estabelecermos relações sociais profundas e significativas, não é por norma uma experiência agradável, precisamente por implicar um risco na relação com o outro. É normal que assim seja, dada a importância que o suporte e a aceitação dos outros tem na nossa vida e, num contexto mais amplo, na nossa espécie.
Por outro lado, a sua desagradabilidade não lhe tira direito, no sentido em que só a partir do momento em que a abraçamos nos tornamos capazes de suprir a maior necessidade que temos: a ser de mãos dadas com o outro, independentemente da situação em que nos encontramos. Sempre que nos negamos à vulnerabilidade, negamo-nos à ligação com o outro. É negação tudo aquilo que nos afasta de nós mesmos e, por consequência, dos outros: esconder, evitar, reprimir, distanciar.
Os adolescentes têm-nos como modelo. Durante anos fomos as lentes através das quais viam e organizavam o mundo. Hoje, na descoberta de si, não são tábuas rasas - já levam conteúdo dentro e dar-lhe-ão seguimento ou cortarão com ele, consoante as suas experiências. Neste papel que aceitámos cabe-nos escolher, em consciência, que modelo lhes queremos transmitir. Serão adolescentes que tomam a vulnerabilidade como coragem ou como fraqueza, em parte, dependendo da forma como nos vêem lidar com ela. Qual a nossa postura perante situações que nos colocam vulneráveis? Admitimos os erros que fizemos no trabalho ou na relação com o outro, pedimos ajuda quando estamos em sofrimento, na praia caminhamos confiantes na nossa roupa de banho até à beira-mar, dizemos “gosto de ti”? Ou escondemos os nossos erros, reprimimos o nosso sofrimento, evitamos expor-nos na praia, distanciamo-nos de quem gostamos porque “é lamechas” ou “vou passar uma vergonha se não for correspondido”? Até que ponto traçamos um muro entre nós e outros para nos “protegermos”?
Ser vulnerável faz parte de ser humano. Que possamos admitir e mostrar a nossa vulnerabilidade aos adolescentes que nos rodeiam como uma experiência comum e de coragem. Existe risco envolvido na nossa vulnerabilidade, no entanto também só a partir dela poderemos ser abraçados pelos outros e, assim, experienciar o sentimento de pertença e de proximidade que ansiamos.