Andamos (pre)ocupados com os acontecimentos diários, tentando fazer face a todas as solicitações que nos surgem. É normal que assim seja, queremos proteger-nos das dificuldades ou travar os seus efeitos nas nossas vidas. Assim vamo-nos enredando em problemas e passamos a tomar as pessoas que nos rodeiam e o meio que nos envolve como um dado adquirido. No processo perdemos oportunidades de conexão e de bem-estar, pois ignoramos a beleza e a bondade quotidianas que existem no meio do caos em que vivemos - um estranho que nos ajuda com as compras, um colega que se demora mais a saber como estamos, o calor do nosso aquecedor nos dias de inverno, a água que corre nas nossas torneiras, os bons-dias do nosso filho ou cônjuge, etc. A par disto, quando agradecemos algo, frequentemente somos rápidos e superficiais - não nos damos nem conta do que nos fez agradecer, nem tempo para saborearmos a sensação agradável que permanece quando dizemos “OBRIGADO POR…”.
E é este comportamento que, sem querer, modelamos nos nossos adolescentes. Por outro lado, somos experts a reclamar que eles são desligados, que tomam tudo por garantido, que não reconhecem o esforço e o valor de certas coisas. A questão é: de que modo contribuímos para que eles sejam agradecidos? Quantas vezes lhes agradecemos por terem feito a sua cama, pelo seu empenho na escola, pelo abraço de raspão que nos deram? Talvez existam coisas enumeradas aqui que são responsabilidades deles, mas quando as fazem não é bom? Não nos sentimos contentes e gratos por isso? O facto de ser tarefa não significa que não seja alvo de agradecimento - estamos simplesmente a reconhecer o esforço deles e o benefício que teve em nós.
A oportunidade é que a gratidão é uma competência e por isso pode ser treinada! Somos privilegiados neste sentido de podermos mudar o nosso comportamento e, assim, transformar o deles. Como?! Através, por exemplo, deste desafio do “Post-it: obrigado por…”. Ele incentiva-nos a expressar gratidão de uma forma cuidada e intencional, parando um momento para saborear. A ideia é que todos os dias lá em casa num momento de reunião familiar (pode ser ao jantar, na sala - onde quiserem ou onde habitualmente passem tempo juntos) cada um possa escrever uma coisa pela qual é grato nesse dia, explicando o porquê, de que modo isso os beneficiou (materialmente ou interiormente) e o custo que teve para a pessoa que fez ou é alvo desse agradecimento.
É uma prática rápida que promove proximidade entre nós e os nossos adolescentes. Podemos colar na porta do frigorífico e ir apreciando ao longo da semana tudo o que existe de bom na nossa vida! Sejam otimistas :) É um desafio possível de concretizar!
Eliana Silva, Psicóloga