Por vezes é preciso mexer na ferida para reativar o processo de resolução: Obesidade

10 Jan 2019

A obesidade é uma doença que apresenta uma maior prevalência nos países industrializados e desenvolvidos e pode ser considerada como um problema de saúde pública. Esta resulta de fatores sociais e biomédicos, sendo uma importante causa de doença e de morte.

É considerada, pela Organização Mundial de Saúde, como a nova epidemia mundial do século XXI, relacionada com o aumento da morbilidade e da mortalidade em geral. Resulta de um desequilíbrio entre o consumo energético e o gasto energético total, sendo a doença crónica mais difícil e frustrante de tratar. Existem vários trabalhos científicos que mostram que este problema tem vindo a crescer cada vez mais. Resultados de um estudo afirmam que existem 350 milhões de pessoas no mundo que são obesas e 750 milhões estão acima do peso recomendável. No que diz respeito a obesidade infantil, estimativas mostram que 22 milhões de crianças com menos de 5 anos em todo o mundo são obesas. 

Um estudo realizado em Portugal relativo aos custos indiretos associados à Obesidade demonstra que, tanto por motivos de doença como de morte, a obesidade acarreta consideráveis perdas económicas para o país. Apenas para o ano de 2002, estimou-se que o custo indireto total da obesidade ascendia a praticamente 200 milhões de euros. A mortalidade contribuiu com 58,4?ste valor (116,6 milhões de euros) e a morbilidade com 41,6% (cerca de 83,2 milhões de euros). Os custos da morbilidade advêm de mais de 1,6 milhões de dias de incapacidade anuais, principalmente por faltas ao trabalho associadas a doenças do sistema circulatório e diabetes de tipo 2.   

Os custos da mortalidade são o resultado de 18,733 potenciais anos de vida ativa perdidos, numa razão de três mortes masculinas por cada morte feminina.

Os hábitos alimentares e de exercício físico são adquiridos e consolidados na infância. Quando desajustados, propagam a obesidade. Uma alimentação adequada tem uma repercussão sobre a saúde da criança segura e positiva sobre o seu crescimento. Assim os alimentos consumidos definem em grande medida a saúde, o crescimento e o desenvolvimento dos seres humanos. Erros alimentares, por insuficiência ou excesso, revelam efeitos no crescimento e no estado nutricional das crianças. A insuficiência alimentar tem como consequência o hipocrescimento e em algumas situações, alterações severas no sistema nervoso central. O excesso alimentar conduz à obesidade infantil, mais frequente nos países industrializados.  

A obesidade infantil traz sérias implicações para saúde na vida adulta, principalmente ao nível das doenças crónicas e degenerativas, e o seu rastreio deve ser iniciado tão cedo quanto possível.

A alimentação das crianças em idade pré-escolar e escolar tem recebido, nos últimos anos, uma grande atenção devido ao rápido aumento da prevalência do excesso de peso e da obesidade, além das comorbilidades associadas. Para além de existirem mais crianças e adolescentes obesos, o grau de obesidade que apresentam é cada vez maior. A obesidade na infância, principalmente depois dos 5 anos, e na adolescência, é um factor preditivo de obesidade na idade adulta, com todas as consequências que dai advêm, que se prendem sobretudo com o aumento do risco de desenvolver doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, asma, doenças do fígado, alterações músculo esqueléticas, apneia do sono e vários tipos de cancro (endométrio, mama e cólon) mas também problemas sociais e psicológicos.

As crianças obesas estão mais sujeitas a ataques de bullying e outros tipos de discriminação, o que poderá provocar consequências diretas na sua autoestima e a quebra no seu rendimento escolarSe não receberem apoio especializado poderão sofrer ainda de depressão ou outras doenças do foro psicológico.

Embora se possa admitir uma predisposição genética, a expressão clínica de obesidade depende fundamentalmente, de fatores comportamentais.

O estilo de vida das crianças e adolescentes do século XXI é consideravelmente diferente do que caracterizou o tempo dos seus pais e avós enquanto crianças. Os alimentos densamente energéticos, o aumento da proporção dos alimentos e as bebidas açucaradas fazem parte da rotina das crianças desde idades cada vez mais precoces.

A crescente importância social da prática de exercício físico regular tem demonstrado uma superior consciencialização pública acerca dos efeitos benéficos da atividade física regular, cujos resultados se concretizam no bem-estar físico e emocional, escolhas alimentares e estilos de vida que procuram diminuir os efeitos das doenças da civilização.

As atividades de lazer – televisão, vídeos e computadores – são responsáveis pelo aumento do sedentarismo, contudo, nestas idades, as creches, jardins-de-infância e as escolas assumem um papel preventivo muito importante, que deverá complementar a intervenção familiar.

 

Joana Valentim Marques (Técnica Superior – Nutricionista - Município de Alcobaça – UVSP)

 

(Bibliografia:Rito A, “A Pré-escola: Uma Ferramenta contra a obesidade infantil” .Nutricias nº 3  2003 p. 42-45 ;Antunes A, Moreira P “Prevalência do excesso de peso e da obesidade entre crianças portuguesas”. Ata Médica Portuguesa 2001; 24 p. 279-284; Pereira J, Mateus C .”Custos indiretos associados à Obesidade em Portugal”. Revista Portuguesa de Saúde Pública. Volume temático 3 (2003) : p 65-76; Costa C, Ferreira M, Amaral R, “Obesidade infantil e juvenil”. Ata médica Portuguesa 2010; 23 p. 379:384”;Sousa B, de Almeida MDV, “Alimentação, Nutrição e Crescimento”. Alimentação Humana, volume 12, nº 3 2006 p.101; Padez, C.; Fernandes, T.; Mourão, I.; Moreira, P.; Rosado, V. 2004. Prevalence of overweight and obesity in 7-9-year old Portuguese children) .