Atividade física, saúde e qualidade de vida - 1ª Parte

25 Sep 2018

A relação entre atividade física, saúde e qualidade de vida tem sido objeto de análise exaustiva ao longo dos últimos anos. As conclusões obtidas a partir dos diversos estudos efetuados são unânimes: a prática regular da atividade física é essencial para a saúde e bem-estar das pessoas de todas as idades, constituindo um dos pilares de um estilo de vida saudável.

De acordo com o artigo da autoria de quatro especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado pela The Lancet Global Health no passado dia 5 de setembro de 2018, a nível mundial, mais de 1 em 4 adultos (aproximadamente 28% ou 1,4 mil milhões de pessoas) são considerados fisicamente inativos. Em Portugal este valor é muito mais elevado, pois temos 43,4% pessoas com atividade física insuficiente sendo que nas mulheres este valor é de 48,5%, enquanto nos homens atinge 37,5%. Ou seja, quase metade da população não pratica atividade física suficiente!

Para combater esta realidade, a Direção-Geral da Saúde promove a diminuição do sedentarismo e o aumento da atividade física afirmando que “a evidência científica e a experiência disponível mostram que a prática regular de atividade física e o desporto beneficiam, quer fisicamente, quer socialmente, quer mentalmente, toda a população, homens ou mulheres, de todas as idades, incluindo pessoas com incapacidades.”

Importa neste contexto analisar o que se entende por atividade física, quais as recomendações gerais para a sua prática e quais os benefícios associados à sua prática regular.

A OMS define atividade física como sendo qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que requer dispêndio de energia. De acordo com esta organização, a falta de atividade física foi identificada como sendo o quarto principal fator de risco para mortalidade global (6?s mortes no mundo), estimando-se ainda que a inatividade física seja a principal causa de diversas doenças como por exemplo aproximadamente 21 a 25% dos cancros de mama e de cólon, 27?diabetes e aproximadamente 30?cardiopatia isquémica.

Os benefícios gerais associados à prática regular da atividade física são diversos e encontram-se associados à melhoria da saúde física e psicológica. As orientações da União Europeia para a atividade física indicam os seguintes:

  • Redução do risco de doença cardiovascular;
  • Prevenção e/ou atraso no desenvolvimento de hipertensão arterial, e maior controlo da tensão arterial em indivíduos que sofrem de tensão arterial elevada;
  • Bom funcionamento cardiopulmonar;
  • Controlo das funções metabólicas e baixa incidência da diabetes tipo 2;
  • Maior consumo de gorduras, o que pode ajudar a controlar o peso e diminuir o risco de obesidade;
  • Diminuição do risco de incidência de alguns tipos de cancro, nomeadamente dos cancros da mama, da próstata e do cólon;
  • Maior mineralização dos ossos em idades jovens, contribuindo para a prevenção da osteoporose e de fraturas em idades mais avançadas;
  • Melhor digestão e regulação do trânsito intestinal;
  • Manutenção e melhoria da força e da resistência musculares, o que resulta numa melhoria da capacidade funcional para levar a cabo as atividades do dia-a-dia;
  • Manutenção das funções motoras, incluindo a força e o equilíbrio;
  • Manutenção das funções cognitivas, e diminuição do risco de depressão e demência;
  • Diminuição dos níveis de stress e melhoria da qualidade do sono;
  • Melhoria da autoimagem e da autoestima, e aumento do entusiasmo e otimismo;
  • Diminuição do absentismo laboral (baixas por doença);
  • Em adultos de idade mais avançada, menos risco de queda e prevenção, ou retardamento de doenças crónicas associadas ao envelhecimento.

Para além destes benefícios que se generalizam a toda a população, encontramos algumas especificidades inerentes a faixas etárias específicas, sucedendo o mesmo relativamente às recomendações para a prática da atividade física.

Esta realidade originou que a OMS definisse três grupos etários distintos que foram selecionados tendo em consideração a natureza e a disponibilidade da evidência científica relevante para a prevenção de doenças não transmissíveis por meio da atividade física:

- Crianças e jovens dos 5 aos 17 anos;

- Adultos dos 18 aos 64 anos;

- Idosos com 65 anos ou mais.

Crianças e Jovens dos 5 aos 17 anos

Recomendações da OMS:

A OMS recomenda a prática diária de, pelo menos, 60 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa.

Todavia, esta organização defende que quantidades de atividade física superiores a 60 minutos proporcionam benefícios adicionais à saúde.

A maior parte da atividade física diária praticada por crianças e jovens deve ser aeróbica. Pelo menos 3 vezes por semana devem ser incorporadas a esta prática atividades de intensidade vigorosa, incluindo exercícios de fortalecimento muscular e ósseo que podem ser realizadas como parte de jogos e corridas.

Benefícios da prática de atividade física:

A prática de atividade física regular por crianças e jovens permite:

- O desenvolvimento saudável dos tecidos musculosqueléticos (ossos, músculos e articulações);

- O desenvolvimento saudável do sistema cardiovascular (coração e pulmões);

 - O desenvolvimento da coordenação e controle neuromuscular (do movimento);

- A manutenção de um peso corporal saudável;

- Prevenir o desenvolvimento de algumas doenças como a diabetes.

Para além destes benefícios, a prática da atividade física também tem sido associada a benefícios psicológicos em crianças e jovens, como a melhoria do controlo sobre os sintomas de ansiedade e depressão.

A atividade física pode ainda trazer inúmeros benefícios a nível do desenvolvimento social de crianças e jovens, como a melhoria da autoestima e da autoconfiança, da interação social e integração.

A OMS refere ainda que foi sugerido que os jovens fisicamente ativos adotam mais facilmente outros comportamentos saudáveis (como evitar o consumo de tabaco, álcool e drogas) e demonstram um desempenho académico mais elevado.

Em agosto de 2018 a American Academy of Pediatrics (AAP) publicou o artigo The Power of Play: A Pediatric Role in Enhancing Development in Young Children ao longo do qual são analisados os benefícios da brincadeira para o desenvolvimento saudável das crianças. O artigo relaciona a brincadeira à atividade física referindo que a sua prática promove o peso saudável, a saúde cardiovascular, e também pode aumentar a eficácia do sistema imunitário, endócrino e sistemas cardiovasculares para além de estar associada à diminuição de sintomas depressivos concomitantes.

Neste artigo a AAP elabora um conjunto de recomendações destinadas a pais, professores e pediatras sendo uma delas a promoção da realização de atividade física pelas crianças como forma de melhorar a sua saúde e a qualidade de vida.

Adultos dos 18 aos 64 anos

Recomendações da OMS:

Para os adultos, a OMS recomenda a prática de, pelo menos, 150 minutos por semana de atividade física de intensidade moderada, ou 75 minutos de atividades vigorosas (ou uma combinação equivalente).

A atividade física aeróbica deve ser realizada em períodos de pelo menos 10 minutos de duração.

Para benefícios adicionais à saúde, os adultos devem aumentar sua atividade física aeróbica de intensidade moderada para 300 minutos por semana, ou praticar 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade vigorosa por semana, ou ainda uma combinação equivalente de atividade de intensidade moderada e vigorosa.

A OMS sugere ainda a realização de atividades de fortalecimento muscular envolvendo os principais grupos musculares em 2 ou mais dias por semana.

Benefícios da prática de atividade física:

A OMS afirma que existem fortes evidências que demonstram que, a prática de atividade física em indivíduos adultos resulta em:

- Taxas mais baixas de: mortalidade associada a todas as causas, doença cardíaca coronária, pressão sanguínea elevada, acidente vascular cerebral, diabetes tipo 2, síndrome metabólica (conjunto de fatores de risco, essencialmente cardiovasculares, que têm por base a obesidade abdominal), cancro de cólon e de mama e depressão;

 - Menor risco de fratura de anca ou vertebral;

 - Maior nível de aptidão cardiorrespiratória e muscular;

 - Maior propensão para atingir a manutenção do peso, ter uma massa corporal e composição mais saudáveis.

Idosos com 65 anos ou mais

Recomendações da OMS:

Para os adultos com 65 anos ou mais a OMS recomenda que, dentro das possibilidades e limitações de cada pessoa, o idoso deve praticar, pelo menos, 150 minutos de atividade física aeróbia de intensidade moderada durante a semana ou fazer pelo menos 75 minutos de atividade física aeróbica de intensidade vigorosa durante a semana ou ainda uma combinação equivalente de atividade de intensidade moderada e vigorosa.

A atividade aeróbica deve ser realizada em períodos de pelo menos 10 minutos de duração.

Para obter benefícios adicionais à saúde, a OMS recomenda que os idosos devem aumentar sua atividade física aeróbia de intensidade moderada para 300 minutos por semana, ou praticar 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade vigorosa por semana, ou uma combinação equivalente de atividade de intensidade moderada e vigorosa.

Os idosos, com pouca mobilidade, devem realizar atividades físicas para melhorar o equilíbrio e evitar quedas em 3 ou mais dias por semana.

As atividades de fortalecimento muscular, envolvendo grandes grupos musculares, devem ser realizadas em 2 ou mais dias por semana.

A OMS refere ainda que, quando os idosos não conseguem cumprir estas recomendações devido a condições de saúde, eles devem sempre manter-se fisicamente ativos consoante a sua condição permitir.

Benefícios da prática de atividade física:

A OMS afirma que os idosos fisicamente ativos, quando comparados com idosos menos ativos, apresentam as seguintes características:

 - Taxas mais baixas de: mortalidade associada a todas as causas, doença coronária, hipertensão arterial, acidente vascular cerebral, diabetes tipo 2, cancro de cólon e de mama, maior nível de aptidão cardiorrespiratória e muscular, massa corporal e composição mais saudáveis;

- Biomarcadores mais favoráveis à prevenção de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e o aumento da saúde óssea;

- Níveis mais altos de saúde funcional, menor risco de queda e melhor função cognitiva; reduzido risco de limitações funcionais moderadas e severas.

 

José Diogo Catela, estudante no curso superior de "Atividade Física e Estilos de Vida Saudáveis"