Adolescência: as nossas 1001 mudanças


2 Oct 2018

Em duas coisas concordam vocês e concordamos nós: a adolescência é um tempo de muitas mudanças e de grandes desafios – e nenhuma das duas são invenções das nossas cabeças.  

Conforme deixamos de ser crianças, ocorrem diversas transições neurofisiológicas no nosso corpo e as nossas capacidades sócio-emocionais desenvolvem-se. Assim, além de todas as mudanças físicas, agora, os nossos processos mentais são mais complexos e evoluídos. Por exemplo, desenvolvemos o pensamento abstrato, a moralidade, a capacidade de refletirmos sobre quem somos, o que pensamos e o que fazemos, tal como já nos conseguimos colocar na perspetiva do outro e de estabelecer comparações sociais.

A par destas mudanças todas, duas das nossas tarefas desenvolvimentais são criar independência emocional e construir o nosso sentido de identidade, porque nos vão preparar para a nossa próxima etapa de vida: sermos adultos. É por isso que é tão importante para nós experimentarmos coisas novas e é por isso que tendemos a testar limites, queremos perceber até onde podemos ir e o que é importante para nós. Depois, as nossas amizades e as nossas ligações românticas ocupam um lugar tão especial por ser nelas que aprendemos como estabelecer relações de suporte além de vocês, a nossa família. Se tivermos em conta isto e o que dissemos à pouco, de agora sermos capazes de nos vermos pelos olhos dos outros, é fácil compreender a nossa elevada autoconsciência e a preocupação com assuntos relacionados com a aparência física e o medo de avaliação negativa por parte dos outros. Também não nos podemos esquecer de todas as decisões que nos pedem para tomarmos durante estes anos! São um stress. Nós ainda nos estamos a conhecer e a crescer, mas para determinadas áreas de vida parece que nos pedem que sejamos (mini)adultos.

Este boom de desenvolvimento e de novas ferramentas por vezes causa-nos algum mal-estar: quando perdemos o Norte e queremos (voltar ao vosso) suporte, mas ao mesmo tempo sentimos necessidade de ser autónomos, ou quando as avaliações que fazemos de nós nos geram vergonha e sentimentos de que não somos como deveríamos ser – é que é mesmo importante para nós sermos aceites no nosso grupo de amigos!

Os nossos “humores” tão inexplicáveis têm afinal razão de ser - estejam atentos, podem esconder dificuldades com as quais não sabemos lidar. Precisamos das vossas balizas quando perdemos o rumo, mas sobretudo precisamos de sentir que estão aí e que podemos contar convosco para quando quisermos – e precisarmos, mesmo que possamos não o expressar verbalmente.

Eliana Silva, jovem e Psicóloga